Para o ex-presidente já não é possível arrebanhar multidões em comícios, indicar candidatos com o dedo e definir alianças regionais como sempre fez.
Lula vai ter um domingo ensolarado, com temperatura média de 26 graus em Fortaleza. Reservou o dia para descanso, depois de uma semana de périplo por cidades nordestinas.
Segue em viagem nesta semana. Mas, pelo que já viu, o mundo mudou desde sua prisão em 2018. E está muito mais complexo para o lulismo.
Já não é possível, por exemplo, arrebanhar multidões em comícios, indicar candidatos com o dedo e definir alianças regionais da forma como sempre fez, mesmo atropelando aliados.
Em São Luís, por exemplo, viu-se diante dos aspirantes do PT, PDT e PSB, todos aliados do governador Flávio Dino (PSB). E, também, das alternativas adversárias do MDB do ex-presidente José Sarney, que o recebeu para jantar, na companhia da filha e ex-governadora Roseana e do ex-ministro Edison Lobão. Sarney foi o esteio de Lula no Senado, Roseana líder do governo e Lobão seu ministro de Minas e Energia. Toda vez que, em público, lhe perguntaram sobre quem apoiaria, esquivou-se: “Só em março”.
Significam sete meses de tempo para conversas. Para atravessá-los, julga necessário redobrar a cautela. A começar pela definição da própria candidatura. “Não decidi se vou ser candidato”, repetiu durante a semana em São Luís, em Teresina, no Recife e em Fortaleza. Ontem, na capital cearense, acrescentou: “Sendo ou não candidato, qualquer um que for para o segundo turno contra o Bolsonaro, eu votarei em qualquer um. Qualquer um é melhor do que essa coisa.”
No “qualquer um” incluiu Ciro Gomes, líder do PDT. O governo estadual é do PT, mas o PDT é que domina a maior parte do Estado, onde vivem 6,5 milhões de eleitores.
Ciro não perdoa Lula pela obstrução de suas chances em 2018, na disputa com Bolsonaro. Fez dele seu alvo preferencial. Só se refere ao ex-presidente como um político de ideias envelhecidas, antigo chefe de um governo “organicamente corrupto”. Lula finge não escutar, como quem aposta no tempo para uma reaproximação: “Ele diz o quer, eu digo o quero, e, quando um não quer, dois não brigam.”
O Ceará é outro exemplo de como o jogo político está muito mais complexo para o lulismo do que sugerem as pesquisas eleitorais no Nordeste, onde Lula se destaca com mais da metade das intenções de voto.
VEJA
Por José Casado