Especialistas acreditam que há pouca chance de uma guerra mundial, mas apostam que ocorrerão várias ações contra os americanos no Oriente Médio
Manifestação no Irã contra o assassinato do major-general
As chances de uma guerra global, motivada pelo conflito entre Estados Unidos e Irã, é descartada pelos os especialistas em relações internacionais. Para o professor da disciplina da Faculdade Ibmec, Leonaro Paz Neves, haverá, sim, uma retaliação dos asiáticos, mas não um ataque à América.
“Há uma década o Irã sofre sérias dificuldades financeiras por causa do embargo imposto pelos Estados Unidos. Por isso, não tem condição de entrar numa guerra aberta, mas certamente vai atuar em pequenas ações com países vizinhos e grupos armados contra os americanos.”
Entre os aliados mais radicais estão os grupos terroristas Hezzbolah e Hamas.
Os Estados Unidos acusavam o general Qassim Suleimani, assassinado quinta-feira dia 03 de janeiro, de estar por trás dos atos contra a embaixada americana em Bagdá. Há três dias, a população local depredou o prédio da diplomacia americana na capital do Irã, em resposta aos ataques aéreos a bases da milícia Kataib Hezbollah em território iraquiano.
O ataque aéreo, por sua vez, era uma retaliação à morte de um cidadão americano em uma base militar iraquiana.
Ações pontuais desse tipo, disparadas pelos dois lados, devem aumentar agora, acredita Paz Neves.
O professor de geopolítica De Leon Petta Gomes da Costa, das Faculdades Integradas Rio Branco, acrescenta que guerras mundiais hoje são impossíveis e mesmo conflitos regionais são inviáveis economicamente.
“Os Estados Unidos invadiram o iraque em 2003, quando o país tinha uma população de 20 milhões de pessoas, um quarto do que tem o Irã hoje. Ficaram lá 12 anos e não conseguiram resolver nada. Mandaram 150 mil soldados e gastaram uma fortuna em troca de quê?”
O que deve ocorrer, opina De Leon, são ataques terroristas no Oriente Médio. “Isso é certo, porque vai haver troco à morte do Soleimani e toda representação ou representante americano agora se torna um alvo na região.”
Ele não vê risco de qualquer tipo de atentado no território americano porque um episódio assim daria a Trump a permissão para invadir o país asiático. “Seria uma ação irresponsável e inconsequente do Irã, um tiro no pé contra o país.”
A estratégia de defesa iraniana tem sido a de estreia os laços políticos com nações e grupos da região, entre os quais dois países de sua fronteira que saíram de conflitos recentes com os EUA, Afeganistão e Iraque.
Entre as retaliações, podem ocorrer ataques a empresas, embaixadas e cidadãos americanos que estejam no Oriente Médio, com sequestros e prisões sem acusações claras.
Reação internacional:
O papel de outras grandes nações pode determinar a extensão da retaliação iraniana e os próximos passos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
“A Rússia, por exemplo, tem uma relação muito mais próxima com o Oriente Médio do que têm os americanos. Então, seu posicionamento é importante nessa situação. Ela pode deixar o conflito se alongar, fazendo sangrar mais um pouco os EUA ou intervir e reduzir os riscos de guerra, saindo ainda mais forte internacionalmente”, esclareceu Paz Neves.
Na manhã desta sexta-feira dia 03 de janeiro, a Rússia condenou o assassinato de Soleimani e declara apoio ao Irã.
O professor do Ibmec destaca também a importância da China na resolução do conflito. “Em um primeiro momento, eles devem ficar longe dessa questão, mas se o petróleo realmente disparar, como já disparou hoje, a tendência é que o país se volte contra os Estados Unidos, com o qual já tem uma relação bastante complicada.”
Para o especialista em relações internacionais, o ataque americano que matou uma das principais lideranças do Irã pode ter sido resultado de um cálculo mal feito de Trump. “Os americanos estão cansados de guerra. Saíram do Afeganistão e do Iraque com muitos mutilados e nenhum benefício na prática ao país”, afirmou.
“Se no passado presidentes republicanos viam na guerra uma chance de aumentar a popularidade, esse conflito de agora pode até ter efeito contrário, se o desenrolar desse processo for ainda mais desgastante para o povo americano”, opinou Paz Neves.