Nos últimos 13 anos, 300 mil brasileiros com idades entre 20 e 34 anos foram diagnosticados com o vírus, de acordo com o Ministério da Saúde
Brasil tem 135 mil pessoas que não sabem ter HIV
Os jovens de 20 e 34 anos são maioria entre os casos de infecção por HIV que ocorreram desde o ano de 2007 até junho de 2019: correspondem a 52,7% dos 300.496 infectados no período, segundo o Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), do Ministério da Saúde – 17.873 são do primeiro semestre deste ano.
O infectologista Jamal Suleiman, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, diz que o quadro pode ser explicado por alguns fatores, dentre eles uma vida sexual mais ativa, a vulgarização da aids entre os jovens e a dificuldade de se comunicar com eles.
“Os jovens têm mais parceiros sexuais e entre eles existe uma ideia de que ter aids não é um problema. Mas isso não é verdade, a aids se tornou uma doença crônica, mas é grave e exige medicação a vida toda”, destaca.
Ele também ressalta que a doença já não é mais pautada pela imprensa como antigamente. “Mas a educação sexual precisa ser um ato contínuo porque as gerações se sucedem e elas são distintas, cada uma tem sua necessidade”, analisa.
“Além disso, de maneira geral, eles não gostam de ler. Então, precisamos disseminar informação de maneira rápida e curta, coisa que não é simples se tratando de HIV”, completa o especialista.
No final de novembro, o Ministério da Saúde estimou que 135 mil brasileiros vivem com HIV sem saber.
O infectologista Evaldo Stanislau Affonso de Araújo, membro da diretoria da Sociedade Paulista de Infectologia, ressaltou em entrevista no começo deste mês que o vírus causador da aids é silencioso.
“É uma infecção assintomática. A maior parte das pessoas só vai descobrir se fizer o exame para detecção do HIV”, afirma. “Se alguém não fez o exame, pode ser que o quadro evolua depois de anos e a doença aids se manifeste”, explica.
Desde o ano de 2012, há uma diminuição na taxa de detecção de aids no Brasil, que passou de 21,4 a cada 100.000 habitantes em 2012 para 17,8 no ano de 2018, uma diminuição de 16,8%, segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde.
Por sua vez, Suleiman ressalta que existem desafios no combate à transmissão do HIV e, consequentemente, da aids. O primeiro deles é oferecer de maneira uniforme as profilaxias pré-exposição (PrEP) e pós-exposição (PEP) ao vírus.
“Tanto no centro como na periferia, onde se concentra grande parte da população vulnerável”, afirma.
Outra necessidade é fazer com que todos tenham acesso ao tratamento. “Existe uma fila de espera por consulta no SUS que dura em média três meses depois que a pessoa descobriu que tem HIV”, diz o infectologista.
Mais de 300 mil casos de infecção por HIV foram notificados no ministério de 2007 até junho de 2018. A maioria deles veio das regiões sudeste e sul.
Mas é preciso analisar esses dados com cautela e considerar a desigualdade que existe no Brasil.
“São regiões com maior visibilidade. Em outros lugares o acesso a serviços de saúde é mais complicado. Muitas vezes, as pessoas não procuram assistência porque não têm conhecimento sobre esses serviços, embora eles existam”, analisa o médico.
Detecção do HIV aumenta em gestantes:
Por outro lado, entre 2008 e 2018, houve um aumento de 38,1% na detecção de HIV em gestantes: passou de 2,1 para 2,9 casos a cada mil nascidos vivos. A ampliação do diagnóstico no pré-natal é uma das explicações para esse fato.
“É preciso oferecer testes para todas as mulheres que estão fazendo o pré-natal, isso previne a transmissão do HIV para o bebê”, enfatiza Suleiman. “Quanto mais precoce o tratamento para a mãe infectada, melhor, porque maior é a chance de prevenção”.
De 2000 até junho de 2019, foram notificados no Sinan mais de 125 mil casos de gestantes infectadas por HIV – 4.500 foram no primeiro semestre deste ano. A maioria tem entre 20 e 24 anos: são 28% do total.